quarta-feira, 29 de julho de 2015

Como entendo classes sociais em meu trabalho de pesquisa


Volta e meia as pessoas me perguntam o que eu pesquiso no mestrado. Começo a explicar e tenho que aprofundar as conceituações que uso. Uma delas é a de classe social. Como desenvolver uma pesquisa exige refinamentos teóricos e conceituações, deixo aqui a conceituação de classe social utilizada por mim na pesquisa de mestrado.


“Entendemos classe social como um grupamento condicionado por questões econômicas, em que indivíduos têm características socioeconômicas semelhantes (i.e. a proletarização, a subproletarização)[1], com relações simbólicas (por exemplo o consumo) determinadas por razões econômicas (como a renda, acesso a serviços públicos fundamentais) e através da relação de antagonismo simbólico e econômico (e simbólico porque econômico) com outras classes sociais.
A diferença que vemos entre classes sociais e grupos de status como definidos por Bourdieu (1987) é que os grupos de status apenas cumprem o valor de classe no sentido da consagração de sua função, sendo que, em sua teoria, o autor se limita a falar de consagração sem estabelecer o processo do condicionamento econômico. Nesse sentido, nos filiamos à teoria desenvolvida por Bourdieu (1987) ao perceber que as classes não são grupamentos fechados em si, mas compostas de modo heterogêneo (inclusive com vários grupos de status em nosso entendimento), mas divergimos do lugar em que o autor coloca a base econômica da sociedade para o condicionamento das classes sociais. Sobre essa discussão, é preciso dizer que concordamos com Block (2013) que, em sua concepção de classe social, compreende que a base econômica não determina as classes sociais, mas as condiciona. Nesse caso, temos dois verbos que precisam ser melhor delineados. Determinar é um termo problemático na teoria marxista ortodoxa porque impõe que não existem relações de classe social fora da estrutura econômica, no que discordamos. As relações de classe estão dentro e fora da estrutura econômica, mas são diretamente condicionadas por ela. Ou seja, a classe social não está determinada, mas é condicionada pelas forças produtivas do capital econômico ou pelas forças especulativas do capital financeiro. Por isso, o termo que melhor se aplica à reação entre classes sociais e a base econômica é condicionar. Tal condicionamento é o que faz as classes funcionarem enquanto classes.
De outro modo, a linguagem ocupa um espaço relevante enquanto capital simbólico. É ela que desenvolve o papel político das classes sociais fora da estrutura econômica. É na formulação de identidade que a linguagem estabelece a caracterização das classes sociais. Para Fairclough (1992), a identidade é construída pela linguagem. Portanto, a identidade não é um dado da natureza, mas o resultado da política de representação estabelecida pela linguagem, comportando-se como uma prática discursiva, a qual se enquadra numa dada prática social. Como arcabouço construído pela linguagem, a identidade tem significados que não naturais e fixos, mas provisórios, como se dá com a própria linguagem. Tal é a relação de construção de sentidos do signo linguístico. Para Bakhtin (1997), o signo é construído na interação, contradizendo a teoria saussureana em que a relação entre significado e significante é fixa. Segundo Derrida (1973) o signo é sempre provisório, sendo que seu sentido nunca é completo".




[1] Para mais detalhes sobre o significado da diferença desses dois termos e a relação com o trabalho no Brasil, conferir Singer (1981). 

Referências Bibliográficas

BAKHTIN, M. M. (Mikhail Mikhailovich). Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do metodo sociologico na ciencia da linguagem. 8.ed. São Paulo; Hucitec, 1997. 
BLOCK, D. Social class in Applied Linguistics. Londres: Routledge, 2013. 
BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 2 ed. São Paulo, SP: Perspectiva, 1987.
DERRIDA, Jacques. Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 1973.
FAIRCLOUGH N. Discourse and social change. Cambridge: Polity press, 1992.  

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"A raça é um signo duplo, cujo significante aponta para dois significados: opressão e resistência"

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